terça-feira, fevereiro 21, 2006

Paralisado pelo toque amargo do café deixo deslizar das mãos a pálida chávena já fria.

Observo-a cair.

Mil pedaços espalham-se nervosamente pelo chão, e a cafeína jorrando que nem sangue mistura-se com o pó da gente que outrora ali passou.

O barulho desperta-me, o tilintar nervoso dos cacos desvia-me o olhar e por um momento esqueço a agitação da chuva que lá fora cai incessante.

Olho agora as minhas mãos trémulas e frias, por um instante nada mais existe.

- Está tudo bem?

Uma doce voz rompe que nem um trovão o mundo onde por momentos viajo.

Sobressaltado levanto os olhos, percorro um avental branco nuvem até uma blusa azul céu. Um rosto calmo olha-me fixamente, perco-me na profundidade daqueles olhos negros marcados pelo cansaço de uma vida dura, mas que mesmo assim me aquecem como um sol.

- Sim, sim…desculpe.

Levanto-me atrapalhado deixando sobre a mesa o dinheiro de um café e da chávena estilhaçada. Sem porquê dirijo-me até à porta, olho uma última vez aquele rosto acolhedor e num breve momento de cumplicidade trocamos sorrisos enquanto saio.



sábado, janeiro 28, 2006


...mil gotas apressadas correm esmagando-se no chão... por detrás da vitrine embaciada chove, cá dentro... cá dentro manequins inanimados sorvem um café interminável expostos a quem passa, modelos que ninguém vê, que ninguém quer comprar... modelos esquecidos nos minutos breves que não passam, esperando um pouco da chuva agitada que lá fora não cessa de cair... a um canto, aguardo o meu café, vou chovendo por dentro as lágrimas que aos olhos me secam e aguardo... aguardo o fim deste café sem sabor, aguardo... o instante em que detrás do vidro gelado o calor de um olhar me virá buscar...

sexta-feira, janeiro 06, 2006


ó brisa que me arrepias
que me esfrias a alma
brisa leve, brisa calma
ó brisa o que levas...
ó brisa de onde vens...
sopra forte leve brisa
leva-me também...